De Triste Porto para Repouso dos Ventos, o coveiro leva duas horas na sua picape velha. Quanto mais aproxima-se do destino, mais o sepultador de almas sente o vento soprado pelas ondas do mar o renovando como fôlego de vida. No fim do percurso, duas esculturas idênticas guardam o pórtico de entrada para a cidade praiana. Estas belas cariátides com feições de sereia também aparecem sustentando as sacadas de inúmeras casas.

Visitantes que chegam de maneira despretensiosa se descobrem cansados da rigidez dos Portos e encontram alento na extensa faixa de areias brancas, nas festas a céu aberto, nas livrarias e sebos fáceis de encontrar a cada esquina. Até a culinária se faz revitalizante; o peixe Siribá é particular da região e tem propriedades incríveis de antienvelhecimento. Para constatar, basta olhar os rostos jovens de diferentes idades que estampam as ruas.

A cidade possui um espírito regente, diz a lenda. É o espírito das águas que navega livremente os oceanos. Por isso, os habitantes de Repouso dos Ventos estão sempre a ir e vir durante as folgas do trabalho (para saber o gentílico da cidade, procure a prefeitura, um palacete de grandes janelas-escotilhas na avenida Almirante-Azul). Não à toa, são contadores de histórias natos. Mais de trinta concursos literários são promovidos por ano ali.

Em Repouso dos Ventos, as árvores não são símbolos de vida. O balançar das folhas é triste quando se pensa no resto do corpo preso ao chão.
Repouso dos Ventos
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